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Atividades Económicas e Demografia

A baleação mobilizou nas Lajes do Pico, sobretudo nos cem anos anteriores à década de oitenta do século XX, grande parte da população. Os tripulantes dos botes baleeiros, as "companhas", e, mais tarde, dos "gasolinas" (pequenas embarcações rebocadoras dos botes), eram homens com outras profissões, muitos deles com ocupações agrícolas. Com as suas "soldadas" anuais, depois de vendido o óleo nos mercados nacionais e internacionais pelos armadores (sociedades baleeiras), alimentavam famílias muitas vezes numerosas. A dureza e perigosidade desta atividade faziam quase sempre parelha com situações de pobreza ou pelo menos de extremas dificuldades financeiras.

«E aquela alegria durava... era uma adoração, porque estavam milhares e milhares de bocas à espera daquela baleia.

... Se era sociedade pois mais bocas comiam... esperavam, as crianças, as mães, as velhas; esperavam as pessoas para comer aquele magro daquela baleia. Isto ainda foi com muita sorte, muita sorte, que tivemos aqui... com mares bravios, noites tempestuosas, aqueles "urros" do mar a meterem medo... e o homem agarrado à baleia não a querendo deixar porque ali vinha a subsistência ou a alimentação dum povo.»

Manuel Costa, baleeiro, entrevista a Sidónio Bettencourt (CD ROM Baleeiros em terra)

 

A dureza da faina alimentou inumeráveis histórias, tornou-se símbolo de identidade de uma comunidade que ainda hoje sabe mostrar o orgulho neste seu passado recente e naqueles que foram os seus heróis – míticos ou reais.

«Até tranquei... fui o único que trancou aqui uma baleia Humpbacked ["Ampebeque" ou Baleia de Bossas]. São trinta metros de comprido... Os cachalotes que a gente apanha aqui tinham vinte metros. Hoje elas regulam mais ou menos dezasseis a dezoito metros. O máximo que já se apanhou foi de vinte metros. Mas o Humpbacked vai a trinta e tal metros de comprimento e eu... tranquei um. E o Manuel Garcia até disse: "Oh homem, este está despachado" que eu fui atrás do Humpbacked por água abaixo. Depois eles cortaram a linha... e eu disse a eles quando saí fora d'água... (bem eu sabia que vinha para cima) quando cheguei acima de água mandei botar um remo ao mar e disse a eles que me cortassem a linha... pois a lancha que me vinha salvar ia-me matando, botaram-me as mãos aos pés e levaram-me de arrasto pelos pés que queria tomar ar e não podia...

E já cheguei aqui terra, já cheguei aqui a terra e eles estarem a gritar aqui em terra dizendo que tinha ficado lá fora... que tinha morrido e eu estava dentro do bote... Eu estava ouvindo os gritos aqui em terra e eu estava dentro do bote.

Eu pus-me em pé e disse: oh homens vocês estão a gritar por quem? Eu estou vivo aqui. Não morri...»

João Lelé, entrevista a Sidónio Bettencourt (CD ROM Baleeiros em terra)

 

Depois de capturados, os grandes cetáceos eram objecto de transformação, por processos de natureza artesanal, sobretudo para a extracção do seu óleo. Até cerca de 1930, a extracção do "azeite de baleia" era feito pelos próprios baleeiros, por um processo denominado "a fogo directo", em típicos "traióis" (dois caldeiros adossados e assentes sobre uma fornalha).

 

Este penoso trabalho foi a pouco e pouco maioritariamente substituído por fábricas de derretimento (em autoclaves a vapor de grande capacidade). Em meados do século XX, a industrialização deste processo contribuiu significativamente para o desenvolvimento económico da vila das Lajes. Aqui se constituiu em 1948 a Sociedade de Indústria Baleeira Insular, Lda. – SIBIL, a partir da reunião de 10 sociedades baleeiras (3 sediadas em Santa Cruz das Ribeiras e 7 nas Lajes). Iniciou a sua laboração em Junho de 1955, exportando um pouco para todo o mundo óleos, farinhas e o valioso âmbar. A Fábrica da Baleia, como ainda hoje é conhecida, encerrou a sua actividade no início dos anos oitenta – depois de vicissitudes várias, a que não foram alheias a desfavorável conjuntura económica mundial e as pressões das organizações ecologistas. No fim da década foi adquirida pela Câmara Municipal das Lajes do Pico. Hoje, está a ser restaurada para abrigar um núcleo museológico e um centro cultural.

Na atualidade, o concelho das Lajes do Pico é marcado, economicamente, pela prevalência do setor primário, em especial da pecuária, relacionada com a criação de gado bovino para produção de leite e carne. Todavia, a grande percentagem da sua população ativa encontra-se empregada nos setores secundário e terciário.

Entre os produtos cultivados e os estilos de cultivo destacam-se as plantas forrageiras, as culturas permanentes de batata, vinha e citrinos, as culturas temporárias de cereais para grão, prados, pastagens permanentes e prados temporários.

A nível demográfico, em 2020, o Município das Lajes do Pico mantinha uma população residente de 4 482 habitantes, dispersa pelas suas seis freguesias, o que corresponde, aproximadamente, a 33% da população residente na Ilha do Pico. Segundo os dados recolhidos nos Censos 2011, a freguesia que presenta um maior número de habitantes é a freguesia das Lajes do Pico, com 1.802 habitantes. Por outro lado, a freguesia da Calheta de Nesquim é a que apresenta um menor número, não ultrapassando os 350 habitantes. O concelho das Lajes do Pico caracteriza-se, assim, por ser um território afetado quer pela diminuição da população quer pelo seu elevado índice de envelhecimento, em 2017, o valor deste indicador situava-se nos 185,3%.